Beatrice Cassano poderia dizer inúmeras coisas a seu favor, ou mesmo contra si mesma, mas uma coisa que ninguém poderia negar, era que ela era perceptiva. Os olhos da mulher fixados na Burkhard pareciam fixos, como um ímã sendo sempre atraído para ela. Era curioso para a advogada observar que aos poucos, o tamanho da movimentação que se fazia presente no ambiente, começou a aumentar. Um sorriso escapou dos lábios da italiana, que olhava de vez ou outra, o externo e arredores, para voltar para a loira. A companhia sem dúvida era um dos fatores mais importantes para que aquele local parecesse mais suportável, junto da ideia de novamente voltar para a escola. Será que aquilo era a verdadeira atração, mas não sexual, a atração romântica por uma outra pessoa? Ouvia histórias dos relacionamentos dos funcionários da família e a jovem sentia um pouco de inveja. Queria uma conexão daquelas.
Era curioso o fato de que a loira ao seu lado também estava em uma situação parecida com a sua: uma graduação concluída, no seu caso, na da Burkhard, em andamento, para voltarem para uma escola, involuntariamente, a fez soltar uma risada. Foi instintivo para Beatrice sugerir maneiras e métodos para poderem passar mais tempo juntas, com certeza aquilo era fruto da atração que começava a ser sentida por ela. Deuses, quando foi que ela ficou tão soft daquela maneira, e pior, por alguém que conhecia tão pouco? Um sorriso acabou sendo exibido pela Cassano que não conseguia sair mais, não sabia quanto tempo fazia desde que sorrisos tanto daquele jeito. Tinha se tornado um pouco mais difícil, desde que tinha sido iniciada na família e suas sangrentas tarefas, o único que a via sorrir verdadeiramente, era seu pai.
— Essa eu senti no fundo da alma, eu sei que medicina geralmente a graduação leva mais tempo que direito. Mas católicos dizem que Deus escreve certo por linhas tortas. — Deu de ombros pensativa.
Ouvir Kendall parecia quase hipnótico para a Cassano, que era a filha da deusa do amor e da beleza, em termos técnicos, mas não se importava. Um suspiro escapou dos lábios alheios, com os olhos fixos para o além da mureta, que tinha um outro grupo de semideuses conversando e fofocando entre si. O sorriso que ainda se fazia presente aos lábios acabou diminuindo aos poucos, ao notar que ao fundo da movimentação que assistia, uma briga acabava por se formar. Não conseguia ouvir exatamente qual era a razão da briga, mas um suspiro novo escapou de seus lábios, deixando que seus olhos voltassem para a Burkhard com o sorriso retornando à si. Soft, era isso que Beatrice estava se tornando naquela ocasião: sorriso fácil, tom calmo e os olhos brilhantes com aquela presença. Parecia tão diferente da mulher que em Milão assassinou traidores à sangue frio.
— Meu tempo livre é seu para fazermos o que você quiser e desejar, Burkhard. — Ofereceu, de maneira genuína. — Eu tenho uma visão provavelmente distorcida do que é justo ou não, mas... Não acho que eu seja capaz de negar algo à você. Quem sabe, pode ser o sorriso? — Deu de ombros, abaixando os olhos para as próprias mãos.
Os comentários sobre a questão do fato de estarem numa escola ser algo além do controle de ambas, a deixou um tanto pensativa, pois era verdade. Aquilo era algo além de suas decisões e de suas escolhas, ao menos naquele momento e devia dançar conforme à música, mesmo que não gostasse. E como Beatrice não gostava. Um suspirar escapou dos lábios, estudando a semideusa, que logo fez a pergunta que esperava, seu parente divino, um sorriso voltou a aparecer pouco depois.
—Realmente, a escolha não foi nossa, mas tem razão, devemos tirar proveito disso e como dizem, dançar conforme à música, certo? — Soltou, sorridente. — Vênus, a deusa do amor e da beleza para os romanos. E você? — Devolveu a pergunta.